domingo, 23 de setembro de 2018

. . . a minha MÁQUINA DO TEMPO


--- Este artigo em seu original é um dos meus preferidos e eu o escrevi em 1.978 em nosso Sesquicentenário (150 anos). Portanto ele está completando 40 anos. Periodicamente o reproduzo neste dia. Hoje fiz uma adaptação e atualização para nossos 190 anos. Concentrem-se ao lê-lo e vamos juntos viajar no tempo novamente.


******************* A   MÁQUINA  DO  TEMPO *******************

Deus ordenou ao homem que ele dominasse a Terra e imperasse sobre as demais espécies. Assim foi e assim está sendo. Na ânsia de crescer mais e mais, atinge conquistas cada vez mais surpreendentes.


Na história da humanidade o homem teve grandes sonhos e pouco a pouco os vai tornando realidade. Com sua tecnologia cada vez mais avançada ele vai atingindo sempre seus objetivos.

Um de seus grandes sonhos é o de construir a máquina que o faça viajar através do tempo. Pelo menos por enquanto tal ideia é inadmissível, até inverossímil e não se imaginam meios de torná-la realidade. Mas, ninguém proíbe ninguém de viajar no tempo numa máquina construída pela nossa imaginação.

Ali está ela bem a nossa frente. Podemos colocá-la em qualquer lugar. Eu a coloco neste momento no alto do morro onde hoje está o prédio do Grande Hotel Serra Negra. Acomodo-me em seu assento. Bem defronte a mim há uma alavanca vertical. Se empurrada para a frente começa uma viagem fantástica para os anos vindouros. Se puxada para trás, acontece o inverso.

É uma linda tarde de setembro e lá estou eu sentado naquele aparelho mirabolante. Ainda não resolvi. Estou na dúvida. Para o futuro ou para o passado? Ainda estou no presente. À minha frente ali embaixo, está a nossa Serra Negra atual, com seus edifícios, seus jardins, suas ruas, suas construções e principalmente seu povo trabalhando, indo e vindo, cercada por morros e montanhas atapetados por uma coloração que mostra as mais variadas tonalidades de verde. Esta silhueta vai mudar muito pouco nesta viagem. Estes morros que nos cercam são as únicas testemunhas do que aqui já aconteceu e do que irá acontecer.


Divagando assim, num movimento inesperado, esbarro na alavanca, impulsionando-a para a frente. Olho assustado para a marca dos anos estampada no relógio ao lado esquerdo da alavanca --- 2.152. Estou em um gramado, sob uma estrutura metálica decorativa do jardim em que me encontro. Atrás de mim, um belo edifício, bem maior que o anterior. Leio em seu topo os dizeres de um artístico luminoso --- "Grande Hotel das Estâncias". Ali embaixo a nossa Serra Negra com roupagem totalmente nova. Construções arrojadas exibem uma arquitetura que faria babar o mais avançado projetista do meu tempo. Aqui e acolá um ou outro prédio mais antigo (novos e recém-construídos em 2.018), destoam no todo. Sinto falta do Edifício Cisne que costumava sobressair-se bem lá no centro. No decorrer dos anos deve ter sido implodido, porque em seu lugar vejo um lindo, grande e muito bem construído jardim dando um destaque todo especial ao centro da cidade.


Penso comigo. Serra Negra atingiu o ponto de realce que merecia. O futuro reservou para nossa terra, realmente como esperávamos, a liderança entre as cidades do gênero em todo o país.


Dou uma última olhada à minha esquerda. Lá está, como sempre esteve, o majestoso Alto da Serra, só que agora quase sem a vegetação antiga, mas locupletado por torres, antenas, postes e belvederes. Olho à minha direita. A imagem do Cristo Redentor é a mesma, imperando sobre o tempo. Uma bela autoestrada chega até seus pés. Além do teleférico, há também uma pista de esqui artificial e um bondinho parecido com o do Pão de Açúcar. A encosta do morro toda coberta de flores, as mais variadas.


Orgulhoso como nunca de minha terra, seguro outra vez na alavanca e com cuidado vou puxando-a para trás não muito rápido, para poder ir acompanhando a involução que começa a acontecer.


Os dias e as noites sucedem-se a minha volta de maneira célere.


2.040... 2.030... 2.020, passo devagarinho por 2.018 e continuo..., 2.010..., 2.005..., 2.000..., 1.990..., é interessante, divertido e às vezes até gozado acompanhar as transformações e os movimentos rápidos, a exemplo dos filmes mudos de antigamente, só que às avessas. As pessoas e os veículos passam rápidos, só que sempre andando para trás.


--- 1.980..., 1.970..., 1.960..., 1.950..., 1.940.................., por duas vezes quase parei. Em 1.935 e em 1.913, para passear ao vivo nos locais em que só conhecia pelas fotografias dos álbuns de Serra Negra editados nestes dois anos e para ficar conhecendo os pais de nossos pais quando moços. Mas continuei puxando a alavanca para trás.


1.900..., 1.850..., passo emocionado por 1.828, e paro em 1.800. Os meus dedos que seguram a alavanca estão duros, minha mão molhada de suor. Sinto o coração bater forte no peito. Pela primeira vez vou sair da máquina.


O silêncio só é quebrado pelo silvar do vento e pelo cantar de alguns pássaros. Tudo é mato. A tarde é linda, como lindas são todas as tardes de setembro.


Lá embaixo --- nada. Absolutamente nenhuma construção mais existe. Os morros e montanhas são exatamente os mesmos. Ali embaixo o vale entre as montanhas, berço natural que irá abrigar a nossa querida Serra Negra. Apenas árvores, mato, relva, cortados por um córrego.


Olho à minha esquerda e lá está o imponente Alto da Serra com sua vegetação selvagem ainda não conspurcada pela mão do homem. Mais alguns anos e este monte majestoso servirá de motivação para o nome desta terra. À minha direita o pico, não menos imponente, que servirá de alicerce para a Grande Imagem, que irá, ao longo dos anos, abençoar a Cidade da Saúde aos seus pés.


Vou começar a voltar para o meu tempo.


Corridos alguns anos começo a notar algumas movimentações lá embaixo. Paro. Desço a encosta, abrindo uma picada pelo mato e pelo capim. Chego perto dos primeiros exploradores que pisam este solo e faço uma descoberta fantástica. Ouço e vejo tudo e todos, mas ninguém me vê e nem me ouve. Portanto, não posso interferir na história. Apenas observar. Vou observando. Vejo de perto Lourenço Franco de Oliveira, Manoela Maria, seus filhos, seus amigos e vou acompanhando os primeiros passos da história serrana.


Usando minha máquina para avançar no tempo, assisto nossa Fundação, a instalação da Capela Curada, a elevação à Freguesia, depois à Vila, a condição de Cidade e Comarca. Fico conhecendo nossa história verdadeira e todos os nossos antepassados, com detalhes e pormenores, tirando todas as dúvidas que ainda possam ter alguns historiadores de Serra Negra atuais e penso o quanto eles dariam para fazer uma viagem igual...


Volto a 2.018, exatamente ao dia 23 de Setembro, a tempo de assistir e participar dos últimos festejos dos nossos 190 anos. E lá de cima do mesmo morro em que viajei, grito bem alto, com todas as forças que minha emoção permite:


PARABÉNS SERRA NEGRA!


VIVA OS SEUS 190 ANOS!


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