O carnaval, a política e eu
Lauro J. Amabile
Corrêa
Começo a escrever essas memórias no dia 16 de fevereiro de
2.021, tarde de terça-feira de carnaval, neste dia mais atípico de nossa história
contemporânea e que deveria ser uma tarde festiva de despedida da folia, da
alegria de mais um carnaval de nossas vidas, mas hoje tudo é silêncio, é
isolamento, confinamento em plena pandemia, que o mundo disso já havia se
esquecido desde 1.918 quando terminou a Gripe Espanhola. Agora é a Covid 19 que
nos assola. O Corona Vírus que contamina, ataca, adoece e mata! Este seria mais
um carnaval tendo como prefeito reeleito Elmir Chedid, ele que em seu primeiro
carnaval de seu primeiro mandato alterou totalmente as características do
Carnaval Serrano, mudando seu corso para a Avenida Laudo Natel.
Estou colocando no papel a minha experiência vivida
envolvendo o carnaval, a política de nossa terra e a minha participação como
assistente, observador e até protagonista, para que tudo não se perca na
voracidade do tempo e na obscuridade do esquecimento, pois hoje talvez seja eu
um dos poucos, senão o único, reminiscente de tais fatos acontecidos no
decorrer dos anos, ficando assim para a posteridade a quem interessar possa a
qualquer momento presente ou futuro. Muitos que também viveram tudo isso já não
estão mais entre nós e pelo que se sabe, pouco ficou escrito com suas vivências
e experiências sobre este tema. Os autênticos historiadores Jorge Antonio José,
Sebastião Pinto da Cunha, Néllo Dallari e Alcebíades Félix já são de saudosa
memória, infelizmente. O que puderam fazer em vida e deixar registrado para as
suas futuras gerações, já o fizeram e agradecemos.
Começo lembrando que do alto dos meus 74 anos e 3 meses de
vida, apenas em dois anos não passei em Serra Negra esse período de Reinado de Momo.
Em 2.014, por atritos políticos na época e neste ano por causa desta pandemia,
uma vez que nenhum festejo está acontecendo no país e no mundo, como cuidado preventivo
na atual pandemia.
Devo começar relembrando que em seus primórdios, lá nos anos
30, 40 e 50 o carnaval serrano se resumia apenas a bailes a fantasia em suas
sedes em remotas épocas, Clube 1º de Janeiro e Clube XV de Novembro e um ou
outro carro alegórico, tendo sido os primeiros que se tem lembrança o Cavalo de
Tróia, um cavalo branco muito grande e também a Maria Fumaça, uma réplica da
locomotiva do trem da Mogiana, cuja paralisação de suas linhas e fechamento de
sua estação que se localizava onde hoje é a Praça Sesquicentenário, tinha
acabado de acontecer. Com o encerramento de atividades sociais no Clube XV que
se localizava no prédio bem em frente ao Mercado Municipal, hoje Cultural,
serviu de palco para alguns carnavais, inclusive pras nossas matinês de
crianças, o Cine República, que era onde hoje é o Banco Bradesco, na Coronel.
Também tivemos alguns carnavais nas dependências improvisadas da então Sonave
no prédio da antiga fábrica Panamalinho, prédio esse que hoje não mais existe.
Num único ano os bailes foram na garagem do Rápido Serrano na Rua 7 de
Setembro. A partir da majestosa sede do SNEC em 1.964, todos os bailes passaram
para lá, principalmente os carnavalescos, com posterior criação do famoso
Troféu Polichinelo para os melhores de salão.
0 Pioneiro em fantasias individuais foi meu pai José Corrêa
devido ao fato de ter uma casa comercial bem no centro da cidade, Casa Amabile,
que vendia artigos carnavalescos, como lança-perfume, confete, serpentina e
máscaras, com a finalidade de divulgação e se tornou tradicional sendo que
anualmente nesta época era esperado por todos as fantasias do Zé Corrêa, tendo
sido as mais famosas e premiadas a de Mister Dólar, Pierrot Apaixonado e
Paliteiro Oriental.
O Carnaval Serrano de rua começou mesmo sua glória, levando-o
a ser considerado como “o melhor carnaval
das estâncias paulistas” (slogan que criei e difundi), em 1.963 no primeiro
ano de gestão do prefeito Luiz Bulk. Aí começou o esplendor dos carros
alegóricos, sempre com a chamada Equipe de Ouro, comandada pelo Nelson João
Gallo, o Galão e sua esposa D. Terezinha e muitas turmas vieram ao encontro com
destaque para a Escola 1ª da Turma das Vertentes sob o comando da inesquecível
Sra. Ione Simon e a criação da primeira escola de samba genuinamente serrana
Clube Recreativo Império das Águas, liderada inicialmente pelos saudosos
Antonio Carlos Kapor e Álvaro Duccheschi. Surgiram também as famílias serranas
em belos blocos, Famílias Brambilla e Cavenaghi, Família Duzzi, Turma da JUS
(Juventude Unida Serrana) com duas brilhantes participações com Disneylândia e
México de Todos os Tempos culminando com o carro desfilando com o Bi-Campeão
Mundial Belini que residia em Itapira e foi o primeiro capitão a erguer a Taça
Jules Rimet. Turma do Casco de Ouro lembrando também do carro transportando
esse ícone da música sertaneja Sérgio Reis. Isso tudo sem contar os blocos
menores como do Carlão Basseto e da fumaça (e do rabo) formado por jovens
serranos. Da fumaça porque faziam muita fumaça com seus carros no largo em
frente ao palanque e do rabo porque saíram fantasiados de homens do tempo das
cavernas cujas fantasias tinham rabos e ao ser anunciado o resultado final pela
Comissão Julgadora no palanque em um determinado ano, por não concordarem,
quando chamei à frente seu representante para receber seu troféu, ele perante
todos quebrou o troféu e foram só rabos que voaram em direção a nós no palanque
em sinal de protesto.
O trajeto tradicional do corso começava no início da Rua 7 e
se continuava passando pelo largo da praça central (onde ficava o palanque),
subindo a Prudente de Morais, pela praça da Matriz, descendo a Monsenhor Manzini,
dobrando à esquerda, entrando na Coronel, até a Pça João Pessoa, dobrando na
Duque e novamente na 7 de Setembro até em frente ao palanque, quando, na
chamada Terça Gorda era anunciado o resultado final decidido pela Comissão
Julgadora e eram entregues os troféus do Ano. Raramente houve alteração neste
trajeto que era decorado com enfeites e grandes máscaras nos arcos das
primaveras nas ruas. Uma única vez foi alterado radicalmente tal trajeto, na
gestão do Prefeito Sinésio (1.987) em que começava na esquina da Coronel com
Expedicionários e terminava na Pça. João Pessoa (uma reta só) onde foi montado
o palanque. Foi neste carnaval que houve um atrito com o conhecido Galvão Bueno
da Globo que saiu fantasiado num bloco de Amparo e depois de beber umas e
outras criou confusão e foi declarado “persona
non grata” em SN.
No primeiro ano da gestão Elmir em 1.997 o trajeto do corso
carnavalesco foi mudado para a Av. Laudo Natel que passou a ser considerada a
“Passarela do Samba” e de lá não saiu mais. Mas então já não havia mais a
Equipe de Ouro e nem mais as demais turmas de blocos e novas turmas se
formaram. Foi o fim de era de ouro dos carros alegóricos, substituídos pelas
escolas de samba até de cidades vizinhas, devidamente contratadas pela
Prefeitura.
Saudo aqui e agora os prefeitos que realizaram brilhantes carnavais de rua: Luiz Bulk, Braz Blotta, Ângelo Zanini, Jesus Chedid, Antônio Franchi, Sinésio Beghini, Elias Jorge, Paulo Scachetti, João Dei Santi, Elmir Chedid e Sidney Ferraresso. De todos eles participei da apresentação, este último quando era vice-prefeito.
Por duas vezes antes destes mais recentes, não tivemos carnaval de rua: o que seria o primeiro da gestão Enzo Perondini e o da primeira gestão de Antônio Franchi (Bimbo), que resolveu dar um basta na exploração financeira que chegou a ser a organização do carnaval.
Encerro este texto na manhã de 27 de Fevereiro de 2.022,
domingo de carnaval novamente sem carnaval, ainda em consequência da pandemia
da Covid 19, naquele que seria o primeiro da nova gestão Elmir que inicia o
segundo ano de seu segundo mandato como prefeito. Não realizou o de 2.021 e
decretou sua não realização também o de 2.022. E por causa disso este carnaval
passa a ser o meu terceiro ano longe de nossa sempre amada e querida Serra Negra
que sempre realizou carnavais memoráveis de rua e de salão, consagrando o
slogan “SERRA NEGRA O MELHOR CARNAVAL DAS ESTÂNCIAS PAULISTAS”.
E pingue-se o confete... ops... o ponto .
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