domingo, 27 de fevereiro de 2022

. . . para a posteridade

                    O   carnaval,  a  política  e  eu

                                                                                 Lauro  J.  Amabile  Corrêa

Começo a escrever essas memórias no dia 16 de fevereiro de 2.021, tarde de terça-feira de carnaval, neste dia mais atípico de nossa história contemporânea e que deveria ser uma tarde festiva de despedida da folia, da alegria de mais um carnaval de nossas vidas, mas hoje tudo é silêncio, é isolamento, confinamento em plena pandemia, que o mundo disso já havia se esquecido desde 1.918 quando terminou a Gripe Espanhola. Agora é a Covid 19 que nos assola. O Corona Vírus que contamina, ataca, adoece e mata! Este seria mais um carnaval tendo como prefeito reeleito Elmir Chedid, ele que em seu primeiro carnaval de seu primeiro mandato alterou totalmente as características do Carnaval Serrano, mudando seu corso para a Avenida Laudo Natel.

Estou colocando no papel a minha experiência vivida envolvendo o carnaval, a política de nossa terra e a minha participação como assistente, observador e até protagonista, para que tudo não se perca na voracidade do tempo e na obscuridade do esquecimento, pois hoje talvez seja eu um dos poucos, senão o único, reminiscente de tais fatos acontecidos no decorrer dos anos, ficando assim para a posteridade a quem interessar possa a qualquer momento presente ou futuro. Muitos que também viveram tudo isso já não estão mais entre nós e pelo que se sabe, pouco ficou escrito com suas vivências e experiências sobre este tema. Os autênticos historiadores Jorge Antonio José, Sebastião Pinto da Cunha, Néllo Dallari e Alcebíades Félix já são de saudosa memória, infelizmente. O que puderam fazer em vida e deixar registrado para as suas futuras gerações, já o fizeram e agradecemos.

Começo lembrando que do alto dos meus 74 anos e 3 meses de vida, apenas em dois anos não passei em Serra Negra esse período de Reinado de Momo. Em 2.014, por atritos políticos na época e neste ano por causa desta pandemia, uma vez que nenhum festejo está acontecendo no país e no mundo, como cuidado preventivo na atual pandemia.

Devo começar relembrando que em seus primórdios, lá nos anos 30, 40 e 50 o carnaval serrano se resumia apenas a bailes a fantasia em suas sedes em remotas épocas, Clube 1º de Janeiro e Clube XV de Novembro e um ou outro carro alegórico, tendo sido os primeiros que se tem lembrança o Cavalo de Tróia, um cavalo branco muito grande e também a Maria Fumaça, uma réplica da locomotiva do trem da Mogiana, cuja paralisação de suas linhas e fechamento de sua estação que se localizava onde hoje é a Praça Sesquicentenário, tinha acabado de acontecer. Com o encerramento de atividades sociais no Clube XV que se localizava no prédio bem em frente ao Mercado Municipal, hoje Cultural, serviu de palco para alguns carnavais, inclusive pras nossas matinês de crianças, o Cine República, que era onde hoje é o Banco Bradesco, na Coronel. Também tivemos alguns carnavais nas dependências improvisadas da então Sonave no prédio da antiga fábrica Panamalinho, prédio esse que hoje não mais existe. Num único ano os bailes foram na garagem do Rápido Serrano na Rua 7 de Setembro. A partir da majestosa sede do SNEC em 1.964, todos os bailes passaram para lá, principalmente os carnavalescos, com posterior criação do famoso Troféu Polichinelo para os melhores de salão.

0 Pioneiro em fantasias individuais foi meu pai José Corrêa devido ao fato de ter uma casa comercial bem no centro da cidade, Casa Amabile, que vendia artigos carnavalescos, como lança-perfume, confete, serpentina e máscaras, com a finalidade de divulgação e se tornou tradicional sendo que anualmente nesta época era esperado por todos as fantasias do Zé Corrêa, tendo sido as mais famosas e premiadas a de Mister Dólar, Pierrot Apaixonado e Paliteiro Oriental.

O Carnaval Serrano de rua começou mesmo sua glória, levando-o a ser considerado como “o melhor carnaval das estâncias paulistas” (slogan que criei e difundi), em 1.963 no primeiro ano de gestão do prefeito Luiz Bulk. Aí começou o esplendor dos carros alegóricos, sempre com a chamada Equipe de Ouro, comandada pelo Nelson João Gallo, o Galão e sua esposa D. Terezinha e muitas turmas vieram ao encontro com destaque para a Escola 1ª da Turma das Vertentes sob o comando da inesquecível Sra. Ione Simon e a criação da primeira escola de samba genuinamente serrana Clube Recreativo Império das Águas, liderada inicialmente pelos saudosos Antonio Carlos Kapor e Álvaro Duccheschi. Surgiram também as famílias serranas em belos blocos, Famílias Brambilla e Cavenaghi, Família Duzzi, Turma da JUS (Juventude Unida Serrana) com duas brilhantes participações com Disneylândia e México de Todos os Tempos culminando com o carro desfilando com o Bi-Campeão Mundial Belini que residia em Itapira e foi o primeiro capitão a erguer a Taça Jules Rimet. Turma do Casco de Ouro lembrando também do carro transportando esse ícone da música sertaneja Sérgio Reis. Isso tudo sem contar os blocos menores como do Carlão Basseto e da fumaça (e do rabo) formado por jovens serranos. Da fumaça porque faziam muita fumaça com seus carros no largo em frente ao palanque e do rabo porque saíram fantasiados de homens do tempo das cavernas cujas fantasias tinham rabos e ao ser anunciado o resultado final pela Comissão Julgadora no palanque em um determinado ano, por não concordarem, quando chamei à frente seu representante para receber seu troféu, ele perante todos quebrou o troféu e foram só rabos que voaram em direção a nós no palanque em sinal de protesto.

O trajeto tradicional do corso começava no início da Rua 7 e se continuava passando pelo largo da praça central (onde ficava o palanque), subindo a Prudente de Morais, pela praça da Matriz, descendo a Monsenhor Manzini, dobrando à esquerda, entrando na Coronel, até a Pça João Pessoa, dobrando na Duque e novamente na 7 de Setembro até em frente ao palanque, quando, na chamada Terça Gorda era anunciado o resultado final decidido pela Comissão Julgadora e eram entregues os troféus do Ano. Raramente houve alteração neste trajeto que era decorado com enfeites e grandes máscaras nos arcos das primaveras nas ruas. Uma única vez foi alterado radicalmente tal trajeto, na gestão do Prefeito Sinésio (1.987) em que começava na esquina da Coronel com Expedicionários e terminava na Pça. João Pessoa (uma reta só) onde foi montado o palanque. Foi neste carnaval que houve um atrito com o conhecido Galvão Bueno da Globo que saiu fantasiado num bloco de Amparo e depois de beber umas e outras criou confusão e foi declarado “persona non grata” em SN.

No primeiro ano da gestão Elmir em 1.997 o trajeto do corso carnavalesco foi mudado para a Av. Laudo Natel que passou a ser considerada a “Passarela do Samba” e de lá não saiu mais. Mas então já não havia mais a Equipe de Ouro e nem mais as demais turmas de blocos e novas turmas se formaram. Foi o fim de era de ouro dos carros alegóricos, substituídos pelas escolas de samba até de cidades vizinhas, devidamente contratadas pela Prefeitura.

Saudo aqui e agora os prefeitos que realizaram brilhantes carnavais de rua: Luiz Bulk, Braz Blotta, Ângelo Zanini, Jesus Chedid, Antônio Franchi, Sinésio Beghini, Elias Jorge, Paulo Scachetti, João Dei Santi, Elmir Chedid e Sidney Ferraresso. De todos eles participei da apresentação, este último quando era vice-prefeito.

Por duas vezes antes destes mais recentes, não tivemos carnaval de rua: o que seria o primeiro da gestão Enzo Perondini e o da primeira gestão de Antônio Franchi (Bimbo), que resolveu dar um basta na exploração financeira que chegou a ser a organização do carnaval.

Encerro este texto na manhã de 27 de Fevereiro de 2.022, domingo de carnaval novamente sem carnaval, ainda em consequência da pandemia da Covid 19, naquele que seria o primeiro da nova gestão Elmir que inicia o segundo ano de seu segundo mandato como prefeito. Não realizou o de 2.021 e decretou sua não realização também o de 2.022. E por causa disso este carnaval passa a ser o meu terceiro ano longe de nossa sempre amada e querida Serra Negra que sempre realizou carnavais memoráveis de rua e de salão, consagrando o slogan “SERRA NEGRA O MELHOR CARNAVAL DAS ESTÂNCIAS PAULISTAS”.

E  pingue-se o confete... ops...  o  ponto .

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