Pensar a questão da identidade é também pensar o futuro de nossa cidade.
Boa noite, Lauro. Meu nome é Felipe Belini Pereira. Sou cidadão serrano e, atualmente, sou Mestrado e pesquisador vinculado ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual Paulista – UNESP. Sempre que me é permitido, procuro acompanhar a situação política e educacional do município. Seu blog, assim como outros veículos de comunicação permitem que, nós, cidadãos, possamos ficar a par dos acontecimentos e das discussões atuais acerca dos mais variados assuntos.
Devido ao motivo supracitado, peço licença para usufruir desse espaço e para dialogar com você e seus leitores sobre uma questão que muito me preocupa, isto é: a identidade de Serra Negra, assim como de seus munícipes. De uma forma simples e rasa, considera-se a identidade o processo pela qual uma pessoa toma consciência de si mesma em relação ao seu meio social, assim como em relação ao outro. Mas também é necessário compreender esse processo como algo coletivo, isto é, como o ganho de consciência de um grupo e/ou de uma comunidade acerca de seu passado e de seu presente, que faz com que esses cidadãos possam se diferenciar dos outros e também possam usufruir do diferente, daquilo que lhe é estranho e que não lhe pertence. Existem várias formas para a formação dessa identidade, passando por discussões que envolvem as áreas da sociologia, da história, da psicologia e afins. Mas uma questão primordial para a formação identitária de qualquer individuo e comunidade passa pela educação, principalmente pela infantil. Pretendo, rapidamente, explorar essa questão.
Serra Negra possui uma população ativa, diversificada e, apesar de seu mercado ser muito restrito e pequeno, se comparado a outras cidades maiores, possui uma particularidade fundamental: o reconhecimento como estância turística, da qual faz com que a cidade receba pessoas do país todo. Mas, por outro lado, por seu mercado não oferecer amplas oportunidades de emprego, possui um déficit profissional grande. Muitas pessoas, por escolha ou por necessidade saem da cidade e fazem sua carreira em outros pólos (completamente normal e não é uma causa especifica da nossa cidade). Portanto, se Serra Negra recebe muitas pessoas durante o ano, também sofre com a perda de uma parcela de sua população. Outra questão fundamental a ser ressaltada é como a cidade tem compreendido e investido na sua história, passando por questões como: Qual o plano de governo acerca dos monumentos históricos da cidade? Qual a discussão sobre o patrimônio histórico e cultural? Como fazer com que nossa população se aproxime desse patrimônio e com ele possa se identificar e aprender sobre o seu passado? Dentre tantas outras questões que podem ser problematizadas.
Sobre o segundo ponto levantado, isto é, o investimento na história de Serra Negra, notei que, infelizmente, essa questão não fez parte dos planos de governo dos candidatos a prefeitos. Isso não é exclusividade do nosso município, pelo contrário, é o sinônimo de um país que ainda não compreendeu a afirmação pontual e esclarecedora de Ricardo Levene: “Pueblo que no sabe su historia no sabe donde va porque ignora de donde viene” (LEVENE, 1956). Destarte, é de suma importância que discutamos a questão da educação voltada para a construção de uma identidade que leve em conta a história do próprio município. É urgente que pensemos em atitudes que nos levem à revitalização dos monumentos históricos da cidade; ao empenho em resgatar a história ferroviária, do que ainda pouco se resta dela; à história das antigas fazendas de café do município, dentre tantas outras opções que somente um governo preocupado com seu passado pode realizar. Mas essas questões devem ser feitas e pensadas paralelamente com as escolas. A história de qualquer município não deve estar separada de sua população, afinal somos seres históricos e, no processo de entrecruzamentos de gerações, fazemos a história, somos seus atores e também seu público.
Torço muito para que algo seja feito nesse sentido. Que possamos pensar em criar projetos entre a escola e a sociedade; entre a geração que hoje vive na cidade e aquela que a construiu. Que possamos ter um plano de governo, isto é, que se faça nas escolas um projeto de cidade, voltada para o próprio município. Assim, podemos resgatar não somente o passado da cidade, mas também a sua própria identidade que, a cada dia que se passa, está mais abstrata, pelo fato de não termos a preocupação em discutir essas questões. Já, em relação à primeira questão que se refere ao déficit profissional que a cidade sofre, o investimento na sua história também pode contribuir para diminuir essa realidade e aumentar o seu mercado de trabalho. Quando se investe no patrimônio histórico da cidade fazendo com que a sua população em geral dela se aproxime, gera-se, direta e indiretamente, a oportunidade de novas ideias, projetos e realizações, seja com a iniciativa pública, privada ou com parceiras entre o setor público e privado.
Ter como meta resgatar a história de Serra Negra não refere-se, portanto, somente a uma necessidade social enquanto um espaço político da qual os gregos chamam de pólis, mas refere-se também a compreender que investir em seu patrimônio é também gerar novos empregos, fazer o turismo na cidade crescer ainda mais, com mais diversidade e opções de lazer.
Enfim, fica a esperança que os legisladores desse novo mandato possam privilegiar essa questão. Será um ganho, enfim, para todos. Da coletividade ao comércio, da sociabilidade ao turismo e da história à formação da identidade serrana.
Muito obrigado.
Um comentário:
--- RECADO: Por favor LARA entre em contato comigo pelo meu e-mail (laurocrr69@gmail.com)
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