O
SOM DA CIDADE
Lauro J. A. Corrêa
A cidade amanhece, o sol desponta por detrás do monte e o
silêncio da noite começa a ser quebrado pelo burburinho urbano, o passar dos
veículos, buzinas, sirenes, motos...
A cidade acorda, o comércio abre suas portas, o povo vai para
seus trabalhos, suas escolas, suas compras... Os vizinhos se saúdam, se
abraçam.
De repente, não mais que de repente, a rotina é violentamente
quebrada pelo imprevisto, pelo inesperado, pelo inoportuno, pela surpresa, pela
visita do indesejado.
As portas da cidade se fecham --- das casas, dos templos, dos
estádios, do comércio.
Como nos antigos filmes do oeste americano, só falta o rolar
ao vento pelas ruas desertas e poeirentas, aquelas bolas de feno ressequidas. A
cidade para e parece estar abandonada como cidade fantasma. Ninguém mais por
ela anda, não há mais visitas, cumprimentos, abraços. A cidade se isola. O povo
se confina. O silêncio da noite em pleno dia se abate sobre a cidade deserta.
Um silêncio que assusta!
A cidade perde seu som, sua alegria, sua vivacidade. A cidade
chora muitos de seus filhos por causa da visita inoportuna e malévola do
inimigo invisível que passa silenciando, contaminando, contagiando, adoecendo, isolando
e... matando!
O inesperado desperta, inclusive em corações adormecidos,
momentos espontâneos de fé, de esperança, de união, de oração e a solidariedade
humana se faz presente e fala mais alto, numa demonstração de amor ao próximo.
A mesma dor que separa, também une as pessoas de boa vontade.
O ciclo mortal mais uma vez é superado pelo combate de heróis
na linha de frente, no pelotão de infantaria, numa luta insana da vida
superando a morte e assim, após um período de tempo, a moléstia deixa seu
rastro maligno de dor e sofrimento, parte para outras plagas distantes e a
cidade, contando seus mortos e destruições pessoais e gerais, volta para seu
dia-a-dia e a vida dos vencedores segue seu rumo e seu destino, a começar pela
recuperação do que possa ter sido perdido.
A cidade amanhece, o sol desponta por detrás do monte e o
silêncio da noite começa a ser quebrado pelo burburinho urbano, o passar dos
veículos, buzinas, sirenes, motos...
A cidade acorda, o comércio abre suas portas, o povo vai para
seus trabalhos, suas escolas, suas compras... Os vizinhos já podem voltar a se
saudar e a se abraçar.
Que bom, divino e maravilhoso é abrir a janela e voltar a ouvir
o som mavioso da cidade livre e curada ao raiar de um novo dia.
As portas voltam a se abrir e a vida segue muito mais
valorizada, enaltecida e protegida.
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