Total de visualizações de página

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

. . . que todos deveriam ler, principalmente os ainda lulistas

Transcrito da Folha de S. Paulo de 20/9/2015
Meu caro Lula, permito-me escrever-lhe publicamente diante da impossibilidade de nos falarmos em pessoa, com a franqueza dos tempos de nossos seguidos contatos –você na presidência do Sindicato dos Metalúrgicos e eu prefeito de São Bernardo do Campo.
Não vou falar das greves que ocorreram de 1979 a 1981, que projetaram seu nome no Brasil e no exterior. Não quero lembrar os dias angustiantes da intervenção no sindicato pelo ministro do Trabalho, em março de 1979, e da violência que se seguiu com prisões, processos e a sua detenção pelo Dops (Departamento de Ordem Política e Social).
Todos esses fatos sempre foram acompanhados por mim juntamente ao senador Teotônio Vilela, a Ulysses Guimarães e a numerosos políticos do então MDB.
Na véspera da intervenção no sindicato, você ligou ao meu gabinete me pedindo ajuda para retirar estoques de alimentos ali guardados. Enviei caminhões da prefeitura para retirá-los, e o material foi depositado na igreja matriz da cidade.
Não falo das reuniões, madrugadas adentro, em meu apartamento em São Bernardo, com figuras expressivas do mundo político e também de outras esferas, como dom Cláudio Hummes, nosso amigo, então bispo de Santo André, hoje pessoa de confiança do papa Francisco, em Roma. Éramos todos preocupados com a sua sorte, a do sindicato e também a das nossas instituições em pleno regime militar.
Prefiro não falar dos dias em que o acolhi em minha chácara na pequena cidade de Torrinha, no interior de São Paulo, acobertando-o de perseguições do poder militar da época: você, Marisa, os filhos pequenos, vivendo horas de aflição e preocupantes expectativas.
Nem quero me lembrar das assembleias do sindicato, depois da intervenção no estádio de Vila Euclides, cedido pela Prefeitura de São Bernardo, fornecendo os aparatos possíveis de segurança.
Eram os primórdios de uma carreira vitoriosa como líder operário que chegou à Presidência da República por um partido político que prometia seriedade no manejo da coisa pública e logo decepcionou a todos pelos desvios de comportamento e por abusos na condução da máquina administrativa do Estado.
E aqui começa o seu desvio de uma carreira política que poderia tê-lo consagrado como autêntico líder para um país ainda em busca de desenvolvimento. Você deixou escapar das mãos a oportunidade histórica de liderar a implantação de urgentes mudanças estruturais na máquina do poder público.
Como bem lembrou Frei Betto, seu amigo e colaborador, você, liderando o Partido dos Trabalhadores, abandonou um projeto de Brasil para dedicar-se tão somente a um ambicioso e impatriótico projeto de poder, acomodando-se aos vícios da política tradicional.
Assim, seu partido –em seus alargados anos de governo, com indissimulada arrogância– optou por embrenhar-se na busca incessante, impatriótica e irresponsável do aparelhamento do Estado em favor de sua causa, que não é a do país.
Enganou-se você com a pretensão equivocada de implantar uma era de bonança artificial pela via perversa do paternalismo e do consumismo em favor das classes menos favorecidas, levando-as ao engano do qual agora se apercebem com natural desapontamento.
Por isso, meu caro Lula, segundo penso, você perdeu a oportunidade histórica de se tornar o verdadeiro líder de um país que ainda busca um caminho de prosperidade, igualdade e solidariedade para todos. Alguma coisa que poderia beirar a utopia, mas perfeitamente factível pelo poder político que você e seu partido detiveram por largo tempo.
Agora, perdido o ensejo de sua consagração como grande liderança de nossa história republicana recente, o operário-estadista, resta à população brasileira o desconsolo de esperar por uma era de dificuldades e incertezas.
Seu amigo, Tito Costa.
Antonio Tito Costa92, advogado, foi prefeito de São Bernardo do Campo (1977-1983) pelo MDB/PMDB, quando teve atuação destacada nas greves de metalúrgicos no ABC paulista, durante os movimentos de oposição à ditadura militar. Foi também deputado federal constituinte (1987-1988)

3 comentários:

comteporaneo disse...

Que lider...que nada...sempre quis o poder ..pelo poder......é um coronelzinho disfarçado de benfeitor da pátria ..quando sempre quis mesmo era o poder..e tendo -o não pestanejou em dividi-lo entre os oportunistas que o seguiam ....e por filhos e etc....triste ..mas 0 Brasil perdeu tempo com um traidor dele mesmo e por tabela da nação ...triste ...mas acabou graças a Deus

Abner Di Siqueira Cavalcante - "O ex-Forasteiro" disse...

Concordo em tudo, gênero, número e grau do que disse o contemporâneo deste dia, 00:43. Aqui, onde estou hoje, em Santos SP, ainda me recordo dos lugares onde nos reunimos, Lula, eu, e mais dois sindicalistas. Um deles era do Rio de Janeiro e outro era de Campinas. Lula, sinceramente, deixou de lato a luta pela pátria para ingressar de corpo e alma somente pelo poder e as benesses inerentes. O povo e as suas lutas de classes, ficou reduzido a pó de nada. O clã lulista ficou reduzido aos seus lacaios que esperavam migalhas do poder e suas famílias, somente trouxeram misérias, corrupção e desmandos financeiros e nenhuma forma democrática de governo. Lula só trouxe desesperança ao povo brasileiro. Mas, como não há mal que nunca acabe, nem reinado que sempre dure, LULA acabou para seu próprio povo. Certamente ACABOU!!!!!

Anônimo disse...

O Tito Costa é esse que rouba as terras indígenas? Boa gente... Por favor, Lauro, antes de publicar críticas, denúncias, procure se informar sobre as fontes e em especial sobre quem está fazendo as críticas e quais são suas reais intenções: contribuir para o país ou desestabilizar e criar intrigas políticas para se favorecer ou favorecer quem lhe interessa.

A disputa por essas terras está na Justiça desde 2005, quando os indígenas ocuparam pela primeira vez o local. "Na época, o Tito Costa conseguiu ganhar o pedido de reintegração e despejou os indígenas como se eles fossem Sem Terra", conta Bruno Morais. Com isso, a comunidade se dispersou.


Imagem do mapa com a delimitação da área realizada em 2013 pela Funai. / REPRODUÇÃO
Eles voltaram ao local em 2013, após o reconhecimento das terras pela Funai. Desde então, segundo o cacique Ari Martins, ocorreram incêndios criminosos no local que tem mais de 100 nascentes. De acordo com ele, Costa vai construir um condomínio de luxo no local. A reportagem não conseguiu realizar contato com Costa, mas ao Estado de S. Paulo, ele afirmou que ali é uma Zona Especial de Proteção Ambiental (Zepam) e, por isso, ele não poderia construir nada a não ser casas populares. Costa ainda afirmou que plantou milho, árvores frutíferas e eucaliptos no terreno antes da segunda ocupação. Segundo as lideranças que vivem ali, Costa nunca apareceu no local. "Eu nunca vi o Tito Costa aqui", disse o cacique Ari.

No processo, Tito Costa se refere aos indígenas da seguinte maneira: “Saíram do acampamento onde vivem, se instalaram em uma área por mero capricho (...). São invasores ridiculamente fantasiados com cabeças de gado e arco e flecha para intimidar eventuais pessoas que se aproximam da área, poucos homens desocupados e mulheres idem, que nada produzem no espaço invadido, ao qual chegaram agora, e nunca fora “tradicionalmente ocupada, com atividade produtiva”.

Na quarta-feira (13), haverá uma audiência pública na Assembleia Legislativa para debater a situação.


http://brasil.elpais.com/brasil/2015/05/05/politica/1430849336_479441.html